No dia 24 de Abril do mês em curso, o Festival Internacional de Poesia organizado pela Associação Cultural Xitende, em Gaza, foi permeado por diversas momentos na Universidade Save e no Conselho Municipal, dentre os quais workshops, declamação de poesia e música.
Na visita que foi feita à Universidade Save, realizou-se um workshop subordinado ao tema “cânone literário”, no qual os intervenientes reflectiam sobre esta matéria de forma geral, mas dedicando as abordagens ao contexto moçambicano.
Numa mesa constituída por José Dos Remédios, jornalista e ensaísta filiado ao Grupo Soico, de Moçambique, pelos Professores Sávio Freitas e Vanessa Riambau Pinheiro juntamente com o poeta Gustavo Rickert, de Brasil, pelos escritores Iolanda Aldrei, Concha Rousia e Alexandre Brea Rodrigues, da Galiza, e pelo escritor Samuel Pimenta, de Portugal, coube a cada um reflectir sobre a forma como interpreta a discussão sobre o cânone. Contudo, porque o destaque era a reflexão sobre Moçambique, recaia sobre a Professora Vanessa Riambau Pinheiro uma abordagem mais profunda acerca do cânone literário em Moçambique, em virtude de este ser um tema sobre o qual tem pesquisado.
Na sua intervenção, José dos Remédios destacou o facto de o cânone literário em Moçambique, e não só, ser resultado de factores literários e extra-literários. Trazendo um recorte histórico sobre a sua colocação, referiu-se ao facto de a obra “nós matamos o cão tinhoso”, por exemplo, não ter sido bem recebida no momento em que foi publicada, devido à temática que abordava num contexto em o país estava sobre o jugo colonial. Mais tarde, quando o país torna-se independente, a obra passa a ter a relevância que hoje é conhecida em virtude das mudanças do contexto sócio-político.
Nas suas intervenções, os demais convidados foram unânimes em destacar o carácter dinâmico da definição do cânone em função do contexto temporal e espacial que se vive e, acima de tudo, da relevância que é dada a algumas obras em detrimento de outras nos meios de debate e divulgação literária.
Vanessa Riambau Pinheiro, por seu turno, descreveu o contexto de produção, publicação e recepção do livro em Moçambique e na diáspora, sobretudo em Portugal e Brasil que são os principais mercados estrangeiros da literatura que é feita em Moçambique. Diante disso, destacou vários cenários em que, do ponto de vista da crítica literária, algumas obras passam a constituir o cânone literário moçambicano em virtude de serem lidos em academias estrangeiras, quando, internamente, há outros escritores que são reivindicados e que só passaram a ser lidos na diáspora há pouco mais de 5 anos. Assim, asseverou: “é preciso que a academia moçambicana seja mais proactiva no estudo dos seus autores para que a construção do cânone literário moçambicano seja uma construção de dentro para fora.”
#Daniel Jacinto/Elísio Miambo