FUNAC e a realidade dos estudantes deficientes em Moçambique

FUNAC e a realidade dos estudantes deficientes em Moçambique

A questão da deficiência, no seio escolar ou académico, continua a ser um assunto muitas vezes deixado em “segundo plano”. Há muito trabalho que tem sido feito, no entanto, a realidade humilhante e carregada de exclusão continua a afastar os deficientes da formação e não só. O caminho ainda é longo, mas não impossível. 

A educação especial é um sistema educativo voltado a indivíduos com distúrbios físico-mentais de desenvolvimento geral, como a Síndrome de Down, o Autismo (pessoas com distúrbios do espectro autista) e indivíduos com uma ou mais deficiências, como visual, auditiva ou intelectual, e deve ser conduzida por especialistas directamente treinados nesta área, promovendo colaboração com outros profissionais como profissionais de saúde, como terapeutas, neuropediatras, psicólogos, neurologistas, psicopedagogos, entre outros actores.

Enquanto ser estudante sem anomalias físico-motoras é um tormento, sê-lo com deficiência numa altura em que o sistema educacional carece de melhorias é um sacrifício ainda maior, uma vez que as condições de aprendizagem no país são precárias, marcadas por falta de escolas, professores insuficientes,  estabelecimentos educacionais em constante degradação, não apenas devido à natureza, mas também à acção humana e outros factores que afectam o sector.

O Novo Postal conversou com Guido Gabriel Lalamo, Director do Fundo Nacional de Apoio Comunitário (FUNAC) – uma associação que se dedica à educação de pessoas com necessidades especiais ou deficiência, contando neste momento com vários centros de treinamento vocacional.

De acordo com Guido Gabriel, o papel do FUNAC na vida das pessoas com deficiência em Moçambique singra-se em “trabalhar na inclusão dessas pessoas em duas esferas que são: no campo educacional e na colocação profissional”, pois o FUNAC “reconhece que pouco se faz e como organização conecta-se às outras instituições na esperança de fazer esta máquina a funcionar”.

Mais a frente destacou, “exemplos disso, são a Remote-Line que apoia com intérpretes para surdos e deficientes visuais facilitando, assim, a comunicação entre alunos e professores. Por outro lado, as palestras motivacionais têm sido um suporte para mostrar que a deficiência não é uma doença e encorajamos as pessoas a olhar este problema com responsabilidade, pois em alguns casos ouvimos que as pessoas com deficiências estão no regime de invalidez, o que as exclui em muitas oportunidades”.

Dificuldades/Desafios

Ainda há muitas barreiras e obstáculos, muitas vezes colocados dentro do seio familiar. O Presidente da FUNAC disse que alcançar o seu público-alvo é o grande desafio. “Quando os activistas se deslocam aos bairros para conscientizar a população, os pais dessas pessoas escondem-nas por vergonha e medo de discriminação que podem enfrentar”.

Sustentabilidade e expansão

“No que diz respeito à sustentabilidade, apelamos aos vários intervenientes da sociedade civil para que abracem a causa, pois durante o andar do tempo queremos poder subsidiar os formadores, visto que os cursos são gratuitos e as nossas instalações têm estado a funcionar na base do auto-rendimento”.

Outro aspecto tem a ver com o facto de o projecto estar em fase de expansão. O mesmo, neste momento, já está a estudar formas de implantação em Nampula, Sofala, no distrito de Nhamatanda, em Zambézia, no distrito Mocuba, dado que a FUNAC entende que as oportunidades nos distritos são reduzidas em relação às cidades capitais, portanto, o objectivo é chegar às zonas mais recônditas.

“Tivemos em Sofala a oportunidade de celebrar um memorando de entendimento com a Direcção Provincial de Acção Social, por sua vez estamos em conversações com o Ministério da Saúde para uma possível cooperação: projecta-se a abertura de um consultório jurídico destinado à defesa dos seus direitos para evitar o pensamento de que a formação é um favor, mas sim um direito”, destacou.

De referir que em Moçambique a maior parte dos deficientes não tem acesso à escola ou ensino condigno devido ao estigma que se faz presente no seio da sociedade, o que leva ao actual estágio degradante de alguns deles, como por exemplo, envolvimento com drogas, consumo excessivo de álcool e uns transformam-se moradores de rua.

#Vanildo Polege

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