Fátima Mendonça disse, em Maputo, que sem se aperceber, José Craveirinha tornou o Bairro da Mafalala, onde viveu, o centro a partir do qual grande parte da sua poesia emergiu, oscilando entre ser um espaço matricial, objectivo que encaminhou muitos dos seus poemas para o efeito épico ou um lugar, a partir do qual, a realidade histórica foi interpelada. Para esta docente, Mafalala assumiu, na poesia de Craveirinha, um sentido simbólico que ultrapassa a relação vivencial do poeta com esse espaço como a própria realidade empírica de uma Mafalala que a história foi configurando em mito.
Fátima Mendonça, que falava Quarta-feira (08.03), na abertura da Conferência Científica sobre “Ética e Estética de José Craveirinha”, na Faculdade de Letras e Ciências Sociais (FLCS), num tema intitulado “José Craveirinha no roteiro poético da Mafalala”, realçou que esse aspecto de matriz identitária é intensificado pela insistência com que Craveirinha assinalava elementos paratextuais no final de cada poema. “Podem verificar que, no final de cada poema, ele normalmente colocava a data e assinava Mafalala”, explicou.
Acrescentou que Mafalala, na poesia de Craveirinha, não se restringe à função paratextual, isto é, assinalar o local de onde escrevia o poema, mas se torna parte do corpo ético desdobrado em imagens constitutivas de um universo simbólico, sempre tendente a uma identificação identitária, o que justifica o epíteto que lhe foi atribuído por Luís Carlos Patraquim, meu “velho novíssimo poeta da Mafalala”.
Por seu turno, o Director da FLCS, Prof. Doutor Samuel Quive, considerou José Craveirinha como herói nacional, poeta e compatriota, fonte de iluminação para muitos jovens moçambicanos.
O académico Yassin Chicombe defendeu a necessidade de atribuição de nome ao estilo literário de José Craveirinha, tal como acontece com muitos escritores e poetas além-fronteira. “Um estilo que pode ser imitado, mas com designação exacta”, frisou.
Enquanto isso, o Prof. Doutor Gregório Firmino reconheceu que, na poesia de José Craveirinha, não se olha as questões estéticas das poesias, mas sim, questões sociais e de conteúdos. A conferência envolveu três mesas redondas de reflexão sobre a dimensão da escrita de José Craveirinha e o seu legado literário, entre outros.
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