Morte misteriosa de um estudante da UEM

Morte misteriosa de um estudante da UEM

Perdeu a vida na última segunda-feira, 06 de Março, por voltas das 10 horas da manhã, no Hospital Central de Maputo, um estudante da Universidade Eduardo Mondlane em circunstâncias ainda desconhecidas. Em vida cursava a Licenciatura em Francês, 4.° ano, na Faculdade de Letras e Ciências Sociais.

É um sonho de Camões Horácio Monnene, de 24 anos de idade, natural da província da Zambézia, Cidade de Mocuba, que caiu por terra. A sua família não mais verá o sorriso do jovem sonhador que partira da sua província, deixando amigos, rumo à capital do país para ingressar na maior e mais antiga instituição de ensino superior da pátria amada com o objectivo de se formar em Francês. 

O irmão do finado, Isaías Horácio Monnene, revelou ao Novo Postal que Camões “não padecia de nenhuma doença, saiu de Mocuba saudável e nunca se queixou de nada”. E a notícia da sua morte foi, por isso, um choque para a família. 

“Foi encontrado estatelado no seu quarto, com alguns problemas notórios, não conseguia movimentar algumas partes do corpo e nem dizer o que sentia. Para entrarmos ao seu quarto foi preciso arrombar a porta, porque ficou toda a tarde de Domingo trancado; o que causou preocupação dos que com ele viviam. Depois de retirado do quarto, foi evacuado para o Hospital Central de Maputo, onde, na manhã de segunda-feira (10), por volta das 10 horas, perdeu a vida”, contou o irmão.

HCM E A HEMORRAGIA INTERNA

O Novo Postal falou ainda com um dos familiares que acompanhou de perto a situação de Camões desde a sua chegada ao hospital até ao último adeus que aconteceu em Mocuba. Contou que “eram 19 horas de Domingo quando recebi uma chamada de um dos vizinhos do quintal em que vivia informando-me que o meu sobrinho estava no Hospital Central, quando lá cheguei, às 20 horas, estava a fazer alguns exames, depois de ter feito os primeiros exames. Pouco tempo depois, saiu da sala de exames muito triste. Encontrei-o com a vista avermelhada e a parte da nuca inflamada. Quando eram 22 horas, os médicos chamaram-me e mostraram-me os resultados que falavam de hemorragia interna”, relata o tio do finado, Ricardo Gabriel Nhede. 

De acordo com a nossa fonte, o médico internou Camões na sala de reanimação pela gravidade do seu estado e foi sugerido que voltasse ao hospital no dia seguinte, às 12 horas. “Fui despedir-me dele, conseguia ouvir-me, mas não me conseguia responder nada, apenas apontava a parte traseira da cabeça”.

DUAS VERSÕES…

Há duas versões sobre a tragédia de Camões. Os que estavam no local, alguns alegam que a porta estava trancada e outros que apenas estava encostada, o que coloca várias dúvidas sobre o sucedido, disse Ricardo Nhede.

De acordo com o tio, a informação de que a porta estava encostada suscita diversas interrogações, pensa-se que alguém tenha armado tudo, porque segundo relatos dos que defendem que a porta estava trancada, para se descobrir o jovem dentro do quarto, primeiro foi chamado, não tendo respondido foram espreitar à sua janela, não respondendo usaram o pilão para arrombar a porta e, para o espanto de todos, viram-no estatelado. Um dos colegas presentes no local apertou o braço para ver se sentia dor mas, não conseguia responder, apenas tentava tocar no braço do colega que por sua vez o apertava. 

A família não reunia condições financeiras para transladar o corpo até Mocuba. Graças à Associação dos Naturais e Amigos de Mocuba (ANAMOCUBA) foi possível tratar do caixão e da respectiva transladação à sua terra natal. Foi gasto cerca de 47 000 meticais. A Universidade Eduardo Mondlane, local onde o jovem estudava, segundo nos revelou o seu irmão, referiu que não tinha condições para ajudar na transladação do corpo, pois Camões não vivia na residência universitária. 

Camões tinha vários sonhos como qualquer jovem, um dos quais era de ir estudar para França, “ser reconhecido como alguém que pudesse contribuir com alguma ideia, queria estudar no exterior e voltar ao país com uma mentalidade mais amadurecida e com novas experiências”, disse o seu irmão que também foi seu professor de Filosofia no ensino secundário.

CERIMÓNIAS FÚNEBRES…

A família de Camões realizou as cerimónias fúnebres do seu ente querido, na última sexta-feira, 10 de Março, na cidade de Mocuba, graças ao apoio de várias pessoas que se juntaram a esta causa para que os restos mortais de Camões tivessem eterno descansou na sua terra natal. Familiares, amigos e colegas, juntaram-se para dar o último adeus ao estudante de Francês.

Mauro da Crise, um dos amigos do malogrado, lamentou a morte precoce do seu companheiro num texto publicado no Facebook “Camões H. Monnene, conhecemo-nos na  Escola Secundária de Mocuba, quando eu, era chefe de turma da A/C e você exercia as mesmas funções já na A/B, por sua paixão pela ciência (sobretudo língua francesa), fez com que criássemos laços de amizade muito fortes. Ainda me lembro que, quando terminamos o ensino Secundário com  sucesso, decidimos rumar para a UEM (Maputo), preparamos os exames de admissão juntos e conseguimos. Você rumou para Maputo e eu, por motivos alheios, abracei outros desafios da vida, quatro anos depois voltamos a nos reencontrar nas férias de Dezembro de 2022, na casa de seu irmão (nosso antigo professor de Filosofia Isaías H. Monnene), onde juntamente com o seu irmão tivemos momentos de lazer, confrontação de ideias, traçamos planos para o futuro. Infelizmente, na última segunda-feira (06.03.2023), fui de forma súbita e prematura acolhido com a melancólica notícia do seu desaparecimento físico. O seu sonho de estudar na França, infelizmente, foi precocemente interrompido, mas mesmo assim, combateste um bom combate, colega, irmão e amigo!  Que Deus todo poderoso lhe conceda um digno e eterno descanso, irmão! Até breve, guerreiro!”.

#Germano Tembe (Novo Postal)

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