Percurso da primeira mulher moçambicana mestre em Astrofísica

Percurso da primeira mulher moçambicana mestre em Astrofísica

O nome de Moçambique é exaltado no estrangeiro, podemos dizer que a bandeira do país foi içada no Reino Unido. Tudo isto acontece porque Yara Hermínia Simango, de 27 anos de idade, licenciada em Meteorologia pela Universidade Eduardo Mondlane, tornou-se na primeira mulher moçambicana a conseguir o grau de mestre em Astrofísica (MSc by research in Physics and Astronomy) pela Universidade de Leeds no Reino Unido. 

Para chegar à cidade de Leeds e à universidade com o mesmo nome, Yara passou por diversos exames que tinham como um dos critérios para candidatura: ser estudante que tivesse terminado todas as disciplinas dos cursos de Física e Meteorologia ou ser docente e ou profissional da área, razão pela qual juntamente com Yara submeteram candidaturas à vaga alguns funcionários do Instituto Nacional de Meteorologia, estudantes e Docentes da UEM. Mas a Yara foi a única apurada desde a fase nacional que decorreu em Moçambique e regional que teve como palco a África do Sul.

Foram no total 40 participantes que no final encontraram-se num observatório, na terra do rand, chamado HartRAO e lá foram anunciadas 7 bolsas de estudo para as Universidades de Leeds, Manchester e Bristol, para que esses 40 participantes concorressem e Yara Hermínia foi uma das seleccionadas.

ONDE TUDO COMEÇOU NA UEM

Tudo começou com um projecto de treinamento básico que era realizado na UEM sob coordenação do professor Cláudio Paulo, Doutor em Astronomia, no qual a Yara participou. Esse programa foi realizado durante um ano e decorria em simultâneo em outros países africanos como Quénia, Gana, Namíbia, Botswana, Zâmbia e Madagáscar. 

O Novo Postal conversou com a primeira mulher moçambicana mestre em Astrofísica que nos contou um pouco o sobre o seu percurso durante a candidatura a bolsa dirigida a alguns países de África no âmbito do projecto denominado DARA (Development in Africa with Radio Astronomy). 

Ela afirmou que “as aplicações eram submetidas directamente para Leeds onde está a sede do projecto e tive o privilégio de ser aprovada ao projecto que era supervisionado pelo criador da idea do DARA e gestor de todo o fundo: um cientista britânico chamado Prof. Melvin Hoare”.

Emocionada, Yara, revelou que se sentiu feliz por ter conseguido concluir o curso, mas “nunca imaginei que teria a dimensão que teve, ademais em Moçambique onde existe uma mulher formada em Astronomia. Uma mulher que me inspira muito, ela é Doutora e ver-me a trilhar um caminho similar deixa-me bastante feliz”.

DESAFIOS

A nossa fonte enfrentou diversos desafios que iniciaram em solo pátrio, o primeiro foi o de conseguir a bolsa. E chegado à cidade inglesa de Leeds enfrentou outros desafios, um dos quais é a língua falada, o inglês – apesar de ser uma língua ensinada em Moçambique, pois o “inglês” da Inglaterra é “diferente”. 

No que tange às diferenças e semelhanças do ensino referiu “o ensino em Moçambique é diferente dos demais países da região, então, para explicar para as Universidades que no nosso sistema a partir de 14 valores a nota é boa não é tarefa fácil”, contudo, “no sistema deles as notas são A, B, C e em diante e cada letra representa uma percentagem, então a nossa missão é explicar que 14 equivale a 70% e representa o A do sistema deles”.

PERCURSO DO MESTRADO

Com o grau de mestre, a Yara adquiriu competências científicas, uma das quais que é a descodificação de informações captadas por um telescópio, o que ela fez com frequência durante o mestrado, aliás, essa é a sua especialidade. 

“Fiz observações com um rádio telescópio localizado na Austrália chamado ATCA (Australia Telescope Compact Array), depois peguei naquele sinal, trabalhei durante meses até obter as imagens que desejava (isso faz-se com uso de alguns softwares e ferramentas de programação)”.

Em relação ao dia-a-dia no Reino Unido, a nossa fonte contou à nossa equipa de reportagem que “aqui a vida é muito boa, cheguei em 2021, finais de Setembro e a adaptação não foi tão difícil, fiz várias amizades, vivi numa acomodação com uma grande comunidade de africanos… com os meus colegas de departamento, que são na maioria britânicos, também foi simples”. 

Aquela região europeia é muito diferente de Moçambique, o índice de desenvolvimento é elevado, tome-se como exemplo o sistema de transporte, segurança pública e acesso aos serviços públicos. 

GANHOS PARA O PAÍS

A mestre em Astrofísica, referenciou que “o País tem muito a ganhar com isso, pois a nível da África várias são as acções que estão a acontecer na Astronomia e vários projectos que envolvem Moçambique e faz-se necessário o desenvolvimento de um capital humano qualificado, por isso não sou a única moçambicana fora a especializar-me em Astronomia”.

O Novo Postal soube que Yara não é a única moçambicana “produto” do DARA, antes dela, saiu um moçambicano que fez o seu mestrado na Universidade das Maurícias e hoje encontra-se nos Estados Unidos da América a trabalhar num observatório da especialização, depois seguiram Yara Hermínia e mais três moçambicanos que estão a fazer mestrado, dentre os quais uma mulher que está na Universidade de Rhodes e outro em Pretória ambos na África do Sul e outro na Namíbia.

#Julião Tsowo

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